Há mais de um século

O LIVRO RIVALIZAVA COM A IMPRENSA PERIÓDICA

Tendo em conta os vários factores que hoje dificultam a publicação de livros em Portugal, como os custos elevados do papel, da impressão e da distribuição, mas sobretudo o reduzido número de leitores, ainda algum analfabetismo e muita iliteracia, quem sabe se esta não seria uma boa estratégia para os editores e os livreiros…

A desaparecida ANA ROSA

chegou ontem à minha biblioteca

Pela mão de Castelo Branco Chaves, que ficara autorizado a publicá-la depois da morte do seu autor, e o patrocínio da Seara Nova, uma tribuna donde Teixeira Gomes palestrara amiúde, ANA ROSA apareceu em 1941, e há muito que era esperada na minha biblioteca.

Perdida que andava por aí, algures entre velhos livros, mas estimada por outro qualquer amante de uma abandonada ao seu destino, sem cálculo nem reserva, e na brutalidade quase selvagem da impaciência do seu criador, ANA ROSA bateu-me à porta e eu recebi-a de braços abertos, feliz por ternamente, pausadamente, a poder beijar em cada palavra que descreve a sua imagem, os seus gestos e a sua ingenuidade.

Já a tinha conhecido por uma triste e nublada fotocópia e sobretudo através de MARIA ADELAIDE, porém esta ANA ROSA, limitada a um capítulo da sua vida, tem outro ritmo, outra cor, outro odor, o odor da poesia que permite tornar visível o invisível, e a verdadeira sensualidade só possível de evocar num discurso estético sem moral nenhuma e sem preconceito, o preconceito que injustamente tende a criminalizar a arte de Manuel Teixeira Gomes.

 

Os 90 anos da História da Literatura Portuguesa Ilustrada

EM 1929 as edições Aillaud Bertrand anunciavam a publicação da obra mais luxuosa e artística dos últimos tempos em Portugal. Tratava-se da monumental História da Literatura Portuguesa Ilustrada publicada em fascículos sob a direcção de Albino Forjaz Sampaio.

Cada número mensal, formato 32 X25, de 32 páginas, em papel couché, custava 10$00.

Dado o número de fascículos, os três volumes, que constituíam a obra , só se completariam já na década seguinte, em 1932 – o que permitia os interessados assinarem a sua aquisição por 3 meses, meio ano ou até um ano.

Conforme publicidade da época, esta História constituiria “um precioso álbum” em que, pela primeira vez, entre nós, se reunia uma tão completa e curiosíssima documentação gráfica: biografias completas, retratos, vistas, costumes, monumentos, rostos de edições raras, manuscritos, miniaturas e fac-similes de autógrafos, em soberbas gravuras, algumas das quais Horst texte, a cores.  

E divulgava-se a lista dos principais colaboradores, que era enorme, onde constavam, por exemplo, Afonso Lopes Vieira, Afonso de Dornelas, António Baião, Augusto Gil, Brito Camacho, Carlos Malheiro Dias, Gustavo de Matos Sequeira, Henrique de Campos Ferreira Lima, Henrique Lopes Mendonça, João de Barros, Joaquim de Carvalho, José de Figueiredo, Júlio Dantas,  Manuel da Silva Gaio, Moses Bensabat Amzalack, Queirós Veloso e Reinaldo dos Santos.

Noventa anos passados, vale a pena comemorar esta extraordinária edição. E nós comemoramos especialmente porque, apesar de a termos naturalmente consultado muitas vezes, depois de vários anos atrás dela, conseguimos finalmente resgatá-la para a nossa biblioteca.

Como devem imaginar, na era digital, os ditos volumes impressos tipograficamente em excelente papel já subiram ao patamar das relíquias a preservar – o que não torna fácil a sua aquisição.

De la typographie

«A tipografia é a base essencial do livro belo, e seja qual for o encanto da ilustração, falhando a tipografia, falha também o próprio livro».

Clément-Janin