Os solistas Eduardo Jordão e João Vasco passaram, literalmente, pelo Tempo, em Portimão, para nos dar música e não palavras. Por isso, cumpriram ao entrarem mudos e saírem calados.
Começando pelo que importa:
Sinceramente gostei do seu virtuosismo!
Seguindo agora para o que não importa nada:
Não gostei que a sua actuação me tenha entretido pouco: parecia que tinham necessidade de despachar a coisa rapidamente. E não sei porquê. Talvez tivessem mais que fazer… O que sei é que, quando se despediram com as muitas palmas, do sempre entusiástico e piedoso público, a dúvida gerou-se na plateia: já acabou? Intervalo?
E também não gostei que o valor dos bilhetes de acesso ao concerto se tenha multiplicado por dois, relativamente ao cobrado na generalidade dos espectáculos da época anterior… Não sei se os cachês subiram assim tanto, se o João Ventura gostava de ver os lugares do Tempo sempre esgotados e a nova directora prefira que haja espaço livre para os espectadores não se acotovelarem ou, quem sabe, esta se integre numa estratégia de precaução contra os vírus que por aí andam a apoquentar toda a gente.
Mas é possível que esta frustração e esta contrariedade tenham a ver apenas com a minha tentação de comparar o que me dizem não ser comparável:
Tal como um concerto, um texto literário pode dar-nos muito prazer. A questão que me incomoda é que em relação ao primeiro – algo efémero, que não raras vezes entra por um ouvido e sai pelo outro – não é hábito discutir quanto estamos dispostos a pagar por ele; já o livro – que se caracteriza por ser algo físico, que é possível sublinhar, transportar, guardar para voltar a ler ou para deixar às próximas gerações, mas também emprestar e, porque não, dar ou vender para comprar outro, não passa de um objecto obscuro, para pessoas que não têm nada que fazer, e que, por isso, só por isso, imagino, não entra na grande maioria das casas dos portugueses… Bem, actualmente, e em muitos casos, devo ser justo: não entra e ainda bem que não entra.
Mas… Chega de mau feitio!
PS: Pela módica quantia de menos de oito vezes o que me custou o concerto no Tempo, Camões, que faz a bela capa da História Literária de Portugal (sécs. XII-XX), de Fidelino Figueiredo, entrou há dias pela minha porta e está, neste preciso momento, a dar-me música.
Vou entreter-me, em silêncio.