Na calçada da glória
Em Março de 1961 Stuart Carvalhais faleceu. E eu que ainda tive o privilégio de ver alguns dos seus desenhos publicados nos jornais que por rotina entravam diariamente na casa de muitos portugueses, não podia deixar terminar 2021 sem recordar a importância daquele que terá sido o mais eclético e prolífero desenhador de imprensa da primeira metade do século XX em Portugal.
Em 1987, quando o saudoso arquitecto Sommer Ribeiro me convida para colaborar na celebração do centenário do seu nascimento, com uma exposição retrospectiva da sua obra no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, devo confessar que admiti a possibilidade de o fazer brilhar no contexto da nossa arte contemporânea, mas sobretudo acreditei no dever de o roubar para a história do design gráfico português. E até cheguei a escrever que:
[…] a subalternidade e até o esquecimento a que Stuart tem sido votado pela historiografia da arte em Portugal resulta, somada a uma certa «punição» à sua participação nas blagues aos futuristas e ao seu comportamento social (quem sabe até político), de um mau entendimento da sua verdadeira importância na catalisação de um grupo que viria a ser considerado a verdadeira oposição à tradição, ou seja, o instrumento rasgador de novas perspectivas para as artes plásticas e mais ainda para as artes gráficas no nosso país.
Acrescentando que:
No contexto da teatralidade da revolução estética do princípio do século, não se lhe pode retirar nem diminuir o mérito de ter sido aquele que despoletou um novo conceito de caricatura e a subsequente dinamização do movimento modernista português, através da sua Sátira, onde Cristiano Cruz e Almada Negreiros viriam a publicar, ainda ingénuos, os seus primeiros desenhos […].
Daí para cá, apesar de ter continuado a cruzar-me com a sua originalidade em muitos desenhos e ilustrações que desconhecia à data da selecção que apresentei na referida comemoração do seu centenário, a verdade é que, ao contrário do que esperava, Stuart voltou praticamente ao anonimato. E é uma pena.
Stuart e o modernismo em Portugal, 1987 (esgotado);
Catálogo da Exposição Comemorativa do Centenário de Stuart Carvalhais, 1987 (esgotado);
Stuart – o desenho gráfico e a imprensa, 2000.