A edição dos Almanaques foi útil durante muito tempo e objecto de leitura obrigatória para a maioria das famílias portuguesas. Hoje, porém, para além do Borda d’Água, adquirido quase por uma questão de respeito à sua provecta idade, as editoras, os jornais, as empresas e até os partidos políticos, talvez erradamente, não vêem sentido na sua publicação.
Eu, para ser sincero, continuo a gostar dos velhos Almanachs. E ontem a minha colecção ficou um pouco mais completa com o ALMANACH PALHARES, para 1910, uma excepcional edição, com quase 800 páginas, pelo Sr. João Leite Palhares, o proprietário de uma tipografia e litografia, a que estava associada uma papelaria – como era, de resto, muito vulgar no século XIX – situada na rua do Ouro, em Lisboa.
Já na altura, depois da referência ao facto do dito Almanach continuar a ser «bafejado pelo mais lisonjeiro e agradável acolhimento do público», no seu editorial podia ler-se ainda que durante a sua existência, de mais de uma década, se tinha visto nascer e morrer muitos almanaques que haviam passado por este mundo inadvertidos – isto porque, eventualmente, não terão procurado inovar, acompanhando a evolução dos interesses dos leitores. E, de facto, esta edição, com uma bela capa composta com elementos florais, ainda a arrastar a Arte Nova como modelo, apresenta uma interessante originalidade: muitos são os artigos sobre a chamada África portuguesa, profusamente ilustrados com fotogravuras inéditas e reproduzidas a partir de fotografias enviadas «obsequiosamente» por correspondentes.
Mas, para além de várias outras novidades, onde os nossos olhos mais se fixaram foi em duas curiosas plantas desdobráveis da cidade de Lisboa – uma datada de 1147 e outra actualizada, à data – e também nas mimosas ilustrações de Raquel Roque Gameiro, designadamente produzidas para os cabeçalhos dos meses do calendário.
Calendário esse que tem a particularidade de apresentar uma rubrica dedicada ao «Jardineiro Amador», ou seja, informação muito importante para algumas das minhas amigas que estão neste momento a aformosear os seus jardins, carinhosamente atarefadas com as suas flores e as suas árvores, e a quem deixo algumas dicas relativas aos seus afazeres de Fevereiro.
Na parte que me toca, agradeço a tua lembrança e o texto acima publicado que primorosamente aformoseaste!
Na casa dos meus pais e avós sempre houve o almanaque “Borda d’Água” (será a nova versão do “almanach” que citaste?). Hoje em dia ai da se encontra à venda e, por vezes, até tenho o comprado por ter informação compilada e interessante, relacionada com a natureza…
Acho que o gosto que tenho em saber os nomes de algumas plantas, flores e árvores, vem da minha infância… Já o gosto de — como tu referes — aformosear o jardim é mais recente: é um hobby e uma excelente terapia.