A preservação do nosso património sobrevivente ao «camartelo do progresso» ou ao desleixo dos poderes públicos, mas também a memória do património desaparecido, foram, ao longo da história, questões sempre muito pertinentes e motivo de preocupação de intelectuais como Almeida Garrett ou Alexandre Herculano. Hoje, infelizmente, não vemos uma figura da dimensão destes dois românticos que levante a voz ou use o poder da imprensa para defender os muitos monumentos abandonados, alguns à beira da ruína, em Portugal.
Criar um arquivo de gravuras impressas e publicadas no século XIX, transformando-o numa espécie de museu portátil, foi uma ideia que evoluiu para um projecto que está em andamento, com a edição do primeiro dos vários volumes que desejamos ver publicados.
A gravura em madeira, ao ultrapassar a simples função ilustrativa que, durante muitos séculos, lhe foi atribuída, para se transformar, concretamente e por direito merecido, num testemunho patrimoniável, manifesta-se como expressão de uma técnica e de uma estética, marcadas por um tempo e por um espaço onde se registam valores de natureza simbólica e cultural que, mais do que qualquer outra arte, pode ainda ter um papel relevante na chamada de atenção para a defesa e valorização da nossa memória colectiva.
Adquirido esse estatuto e essa importância, a também chamada gravura a topo, dada a definição das suas características específicas para impressão tipográfica, continuará, apesar de tudo, com muita dificuldade em entrar directamente no espaço do museu. Por isso, acreditamos sinceramente que o espaço próprio para a sua musealização e exposição será mesmo o do livro, ou seja, o ascendente mais próximo do jornal e da revista, onde, na sua itinerância persistente, resistiu até definhar e morrer, substituída pela fotografia.