Definidos todos os passos e todas as regras necessárias, as diligências seguintes passariam, primeiro, pela nomeação dos três elementos da Conferencia e, depois, pela decisão fundamental que obrigava à escolha e aquisição de uma oficina que constituiria o núcleo da futura Impressão Regia.
Para director-geral foi nomeado Nicolau Pagliarini, cargo que manteria até 1778, aquando da sua substituição por Domingos de Gambôa e Liz; para tesoureiro foi chamado o deputado Bento José de Miranda; e para administrador a opção recairia no proprietário da oficina que a própria Junta ou Conferencia acabaria por decidir adquirir. Miguel Manescal da Costa, o responsável por uma das melhores tipografias de Lisboa e o herdeiro de uma família com tradições nas artes gráficas que remontava ao princípio do século XVII, foi o escolhido. Medida que, de resto, se compreende, tendo em conta que o futuro administrador teria de ser um mestre impressor de mérito reconhecido, e este enquadrava-se nas exigências do texto do próprio alvará de 24 de Dezembro. Para além disso, como refere Pereira e Sousa, Manescal era um homem ilustrado “e grande privado, como é tradição, do primeiro-ministro de el-rei D. José”, o que o colocava em vantagem relativamente a todos os outros impressores.
Apesar de tudo, a pedido de Nicolau Pagliarini, o processo de aquisição da dita tipografia não evitou uma avaliação independente, responsabilidade assumida por António Vicente da Silva e José António da Silva, este, filho e herdeiro do tipógrafo Pascoal da Silva – dois impressores estabelecidos com importantes oficinas em Lisboa que se encarregaram de um relatório onde especificamente se debruçam sobre a racionalidade dos valores atribuídos por Manescal ao seu material e equipamento –, e ainda por Joaquim José dos Reis, que sujeitou as prensas, construídas em madeira do Brasil, à sua muita experiência como mestre das obras do Real Collegio dos Nobres.
Conforme o Livro dos Inventarios da Impressão Regia, de que nos dá conta Francisco Pereira e Sousa 10, a lista de material e equipamentos que existiam na oficina de Manescal da Costa contava com oito prensas, trinta pares de caixas, cavaletes, seis bancas com estantes para formas, cento e vinte tábuas de formas e de papel, galés e componedores, um caldeirão para tinta, uma prensa para embalotar, madeira para estantes e 8 539 arráteis de tipos em vário uso, tudo avaliado em 2 162$870 réis. Nesta mesma oficina trabalhavam dez operários: quatro oficiais compositores, três impressores e três batedores ou ajudantes, número que, até ao final do ano, subiria para vinte e três, o que perfazia cinquenta e seis trabalhadores a cargo da Impressão Regia.
Quanto à fábrica de caracteres, como ficou previamente determinado, depois de passar a produzir sob a dependência da Impressão Regia, recupera João de Villeneuve como mestre responsável, enquanto a Joaquim Carneiro da Silva* era distribuída a obrigação de abrir todas as estampas necessárias à impressão, bem como confiada a direcção da primeira escola de gravura em Portugal, estabelecida por decreto de 26 de Janeiro de 1802.
* Depois de alguns anos no Brasil, onde foi aluno do gravador João Gomes – um lisboeta ligado à Casa da Moeda –, e outros tantos em Itália, primeiro em Roma, onde frequentou a escola de desenho de Ludovico Sterni, e posteriormente em Florença, o portuense Joaquim Carneiro da Silva (1727-1818), a convite do marquês de Pombal, passou a fazer parte do quadro de gravadores da Casa da Moeda, lugar que abandonaria para ingressar na, então, criada Impressão Regia, onde, durante muitos anos, se dedicou ao ensino da gravura e até ao estudo geométrico e tipométrico dos caracteres tipográficos. Segundo Inocêncio Francisco da Silva, “à custa de trabalho e diligência”, conseguiu reunir “uma notável colecção de estampas, em número de mil e seiscentas (mais precisamente 1 689), a qual por sua morte legou à Academia Real de Ciências”.