Um jornal – uma ÉPOCA – uma História

Há dias, entrou pela minha porta um fragmento da história do nosso país. Um fragmento associado a um período, mais exactamente a 147 números de uma ÉPOCA –Diário de Grande Informação.

Para quem não se lembra dele ou para quem não teve oportunidade de percorrer as suas páginas, trata-se efectivamente, do ponto de vista do formato (broadsheet), de um jornal grande (410 x 570 mm) – um pouco maior do que o velho Expresso e bastante maior do que o seu actual formato (berliner) – e com muita e interessante informação (16 páginas).

Sendo um periódico historicamente associado ao antigo regime, o chamado Estado Novo, é curioso que o título do seu primeiro editorial, por Barradas de Oliveira, o director, brade por AVANTE! – este o título da, na altura, clandestina Oposição.

Mas, afinal, qual era o caminho que Barradas de Oliveira apontava quando manifestava a vontade de não ficar parado a ver o progresso passar ao lado de Portugal?

Ao definir a ÉPOCA como um jornal do povo – com uma preocupação em contribuir para que, “a par da vida e da integridade da Nação”, se multiplicassem os esforços no sentido de conseguir para a generalidade dos cidadãos o máximo possível de melhores condições da vida, quer materiais, quer espirituais –, Barradas de Oliveira podia integrar a redacção de qualquer publicação enquadrada no dito espectro da informação democrática.

 

Mas, ao acrescentar que a contribuição da ÉPOCA para a referida integridade da Nação passaria pelo trabalho árduo de cooperação com o Estado Social que Marcelo Caetano lapidarmente havia definido, Barradas de Oliveira mergulhava voluntariamente no fosso onde se amontoam os condenados do denominado fascismo. De resto, fosso donde nunca conseguiu sair, sobretudo depois do seu protesto em Quando os cravos murcham – meio milhão de mortos (a vergonhosa descolonização).

Mas, lá está: cabe à história deslindar o que estava por detrás das ideias de Barradas de Oliveira – um jornalista que intelectualmente (para baralhar) se expunha entre o modernismo de Fernando Pessoa e a Propaganda Nacional definida por António Ferro, ou participava do lirismo de um António Boto sem medo do regime homofóbico.

Voltando à nossa ÉPOCA. Claro que ainda não folheámos todas as suas páginas. Esta é uma tarefa para percorrer devagar, calmamente e com prazer.

Para finalizar, deixo-vos uma sentença do intrincado Barradas de Oliveira: “um jornal é sempre um espelho do seu tempo, da sua ÉPOCA”.

Se bem que esta não seja uma teoria inédita. Basta conhecer a convicção com que os jornalistas e escritores público oitocentistas chamavam a si a responsabilidade e o mérito de declamarem no palco da história do seu tempo.