Designer gráfico e futurista
NO próximo mês de Julho, faz meio século que José de Almada Negreiros faleceu.
Já muito se escreveu sobre a herança que nos deixou e, pelo que tem sido dito ao longo dos anos, até parece que já não há nada mais para dizer. Mas não é verdade.
Não o conheci senão pela sua aparição no célebre programa ZIP-ZIP, e por ter tido o privilégio de ver e tocar alguns dos seus desenhos originais, que se espalhavam livres, sem moldura, pelo atelier do seu amigo Tom, Thomaz de Mello, para quem, na longínqua década de 1970, ainda jovem e a bater à porta da velha Escola de Belas Artes de Lisboa, pintei alguns dos seus bonecos de madeira.
Talvez por isso, ou por alguma daquelas extraordinárias aulas com que Lagoa Henriques deixava os seus alunos entusiasmados, a verdade é que Almada foi uma personagem que sempre me fascinou, embora apenas lhe tenha dedicado um artigo, publicado em 1985, a que dei o título de «O Poeta da Miscigenação», e ainda algumas breves notas a propósito de Stuart Carvalhais com quem colaborou nalguns jornais humorísticos, designadamente A Satira e depois o Papagaio Real.
A verdade é que os estudos de José Augusto França, com todo o respeito que merece, por ter sido, nos últimos 40 anos, o «pai» de grande número dos historiadores e críticos da arte contemporânea portuguesa, sem que esse fosse o seu objectivo, bem pelo contrário, acabaram por secar algumas matérias que era expectável os seus orientandos aprofundarem. E a obra do Almada parece-me ser uma dessas matérias.
Se passarmos em revista a sua obra, sentimos que existe uma área de intervenção específica que nunca foi estudada com a atenção que merecia: a das artes gráficas.
Para além do desenho de imprensa, onde experimentou o humor, a caricatura e a ilustração, Almada fez de tudo um pouco, desde anúncios comerciais, vinhetas decorativas, selos, cartazes e capas de livros e de revistas, ou seja, matéria mais do que suficiente para merecer um estudo que o integre no espaço do design gráfico.
Sendo um homem controverso, um futurista que, por mais que se tente, não se descobre na sua obra plástica, quem sabe vestígios dessa ligação se encontrem impressos onde os historiadores o não têm procurado.
A desconhecida, por lapso de pesquisa, Revista do Ar é uma pista.
Fomos amigos do seu filho Zé e nora Rita, quando vivíamos em Lourenço Marques! Muito conversámos sobre o artista e o homem! Quando vejo exposições dele fico sempre admirada com a variedade das suas perfermances e com a quantidade e qualidade das suas obras!
A tua iniciativa é excelente e gostava de conversar sobre as questões que levantas! Vamos fazê lo num dia destes!