No dia em que se comemora mais um ano do nascimento de Manuel Teixeira Gomes, era interessante falar de arte, de literatura e de poesia. Seria útil aprofundar algumas ideias desta intersecção de interesses que dominava a curiosidade e a imaginação do seu reconhecido pensamento estético.
Infelizmente falar-se-á da sua ginástica matinal, das suas caminhadas, do seu gosto por umas braçadas no mar e provavelmente das suas aparições, como presidente da República, nalguns momentos protocolares de cariz desportivo. E voltar-se-á a dar importância às estafadas referências bibliográficas que recordam a sua relação com os figos secos, as amêndoas e os citrinos – negócio que herdara da família e que, no contexto da sua vida e da sua obra, já merecia passar a uma simples nota de rodapé.
Por tudo isto, mais uma vez, Numa Sublime Cruzada em Busca do Belo, embarco rumo ao Mediterrâneo, para lhe seguir os passos nos lugares onde se sentia bem consigo próprio e com os deuses.
A propósito do Mar e do infinito que MTG buscava com prazer na linha do horizonte, deixo um poema de uma Algarvia – quem sabe, se portimonense; quem sabe, com quem terá privado…
Ao Mar
Amo-te muito, ó mar! embevecida e em calma,
que tu a imagem és das tempestades d’álma;
e quando soltas rouca a tua voz potente
és de soturna harpa um triste som plangente.
Perdido o nauta vai sem voz e sem alento,
sentindo n’álma a dor, no peito o desalento,
e embora o aniquile o poder do invisível,
treme! mas admira-te a majestade horrível!
E deixo também uma pintura que faz parte das obras de arte que MTG juntou… obra não assinada, para a qual, entre outras, chamei a atenção em 2015, levantando a possibilidade desta «tempestade» ser um dos vários estudos preparatórios para o Naufrágio de William Turner – de resto, questão sem qualquer interesse, tendo em conta o que era necessário fazer, mas que desconheço ter sido feito. Noutra terra, a esta tese chamavam-lhe um figo; em Portimão prefere-se falar de figos torrados e de ginástica sueca.