Bienal de Veneza

Depois da escultora Leonor Antunes ter declarado que não aceitaria representar o país na Bienal de Veneza se estivessem o PSD ou o CDS no governo de Portugal, não resisti ao impulso de visitar o Palazzo Giustinian Lolin para ver o seu trabalho.

Para ser sincero, estava com alguma curiosidade.

Há muito que a arte estética se libertou da arte didáctica. E tudo indicava que Leonor Antunes tinha uma nova proposta ideológico-imagética para fazer revivescer uma arte subordinada a objectivos políticos. Perspectiva que, felizmente, não se confirmaria.

 

Talvez levada pelo discurso da ministra da cultura, que diz estar a programar medidas para combater a invisibilidade das mulheres artistas, Leonor Antunes, que optou por viver na Alemanha, da «esquerdista» Angela Merkel, ter-se-á visto obrigada a agradecer o facto de ter sido escolhida para representar a «geringonça», que classificou de «governo fantástico». E fez mal, porque a arte não tem sexo nem partido, mas apenas a obrigação de ser inteligente para não se deixar corromper pela política.

Mas, afinal, todas estas inconsequências não passam de palavras e frases mal construídas por artistas e políticos de cultura duvidosa que desconhecem o valor do silêncio, sobretudo o silêncio da arte e da poesia.

Relativamente à exposição e às obras expostas, direi apenas que as pequenas salas cedidas pelo Palazzo Giustinian Lolin foram violadas por algumas interessantes experiências minimalistas que se perderam submetidas à força de um indisfarçável espaço barroco, e que, talvez por isso, ou por falta de alguma originalidade, não me provocaram a mínima exaltação estética.

Em conclusão, a ministra não ganhou politicamente o que quer que seja com o seu discurso de afirmação do género e a artista não ganhou nada com o disparate de misturar a arte com a política.

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