Ainda assim, certamente não se pode concluir que alguma vez lhe tenha faltado trabalho, bem pelo contrário. Durante mais de 60 anos, terá feito milhares de desenhos e ilustrações, sobretudo para cartazes, capas de livros, de jornais e revistas, rótulos e outros de cariz comercial, o que, por direito próprio, lhe dá, ou devia dar, um lugar na história do design em Portugal – história que, de forma incompreensível e até irritante, se vai fazendo nas universidades, sem acrescentar algo de muito relevante ao que já foi dito no passado e, sobretudo, talvez por défice de investigação, sem dar mérito à participação das mulheres portuguesas no âmbito das artes gráficas.
É verdade que antes dela muitas mulheres trabalharam na sombra dos homens, como tipógrafas, impressoras ou ilustradoras, mas cabe à verdadeira história do design gráfico e tipográfico alterar essa sua condição de incógnitas.
Não sei se agora – quando passam cinco décadas sobre o seu falecimento – é o momento certo para se descobrir a importância da sua obra, ou se será necessário esperarmos mais 50 anos, o que não tenho dúvidas é sobre a pertinência de um trabalho monográfico onde se procure realçar o facto de Raquel Roque Gameiro ter sido uma designer, talvez a mais importante da primeira metade do século XX.