Raquel Roque Gameiro

na sombra

dos chamados modernistas

MUITO influenciada pelo pai, professor, e pelo seu trabalho de aguarelista, Raquel Roque Gameiro (1889-1970), que aos 14 anos vence um concurso de ilustração lançado pelo francês Le Petit Journal, não tem sido estudada no contexto do modernismo em Portugal, muito menos integrada no número de designers gráficos portugueses, no seu tempo vistos como decoradores, ilustradores, desenhadores ou, na gíria das redações das publicações periódicas, simplesmente fazedores de bonecos.

Desde muito nova associada a Ana de Castro Osório, que lhe deu a ilustrar grande parte das suas histórias para crianças, e ao mundo da moda e das mulheres, como mães e esposas prendadas, mas também já atentas e 

integradas num ainda suave movimento feminista, Raquel colaboraria em várias experiências editoriais, dividindo algum do espaço que ia sendo distribuído pelos ditos gráficos modernistas e não modernistas homens.

Ainda assim, certamente não se pode concluir que alguma vez lhe tenha faltado trabalho, bem pelo contrário. Durante mais de 60 anos, terá feito milhares de desenhos e ilustrações, sobretudo para cartazes, capas de livros, de jornais e revistas, rótulos e outros de cariz comercial, o que, por direito próprio, lhe dá, ou devia dar, um lugar na história do design em Portugal – história que, de forma incompreensível e até irritante, se vai fazendo nas universidades, sem acrescentar algo de muito relevante ao que já foi dito no passado e, sobretudo, talvez por défice de investigação, sem dar mérito à participação das mulheres portuguesas no âmbito das artes gráficas.

É verdade que antes dela muitas mulheres trabalharam na sombra dos homens, como tipógrafas, impressoras ou ilustradoras, mas cabe à verdadeira história do design gráfico e tipográfico alterar essa sua condição de incógnitas.

Não sei se agora – quando passam cinco décadas sobre o seu falecimento – é o momento certo para se descobrir a importância da sua obra, ou se será necessário esperarmos mais 50 anos, o que não tenho dúvidas é sobre a pertinência de um trabalho monográfico onde se procure realçar o facto de Raquel Roque Gameiro ter sido uma designer, talvez a mais importante da primeira metade do século XX.