Levar a madeira à Madeira

Talvez pareça estranho, mas é literalmente verdade que, no século XIX, a gravura em madeira atraiu muita gente ao Arquipélago da Madeira.

Poderá mesmo afirmar-se que, apesar de estampada a tinta preta, a imagem gravada e impressa deu cor à imaginação dos tourists e ajudou a integrar a «pérola do oceano» nos grand tours europeus do período Romântico.

Passados quase dois séculos, num breve tour, tive eu a oportunidade e o gosto de levar a dita gravura em madeira à Madeira, para falar de ambas na Universidade do Funchal.

E o encontro da representação da realidade com a própria realidade foi muito interessante. A história e o encontro com o belo fundiram-se na adesão a uma ideia iluminada pela imagem.

Mas eu e a minha companheira, a gravura, tivemos outros encontros interessantes, e até inesperados, com algumas das chamadas artes correlativas a que dedicamos muito do nosso tempo e do nosso amor. Concretamente, foi gratificante visitar as artes gráficas e a imprensa no Museu de Câmara de Lobos. Um interessante, bem pensado e polivalente espaço de convívio com o passado, mas também com o presente e o futuro de uma invenção que colocou o homem no centro do mundo.

Ali, a gravura reviu punções, tipos móveis, matrizes, prensas e outros artefactos que lhe deram a forma e a cor, enquanto eu pude imaginar o doce cheiro das tintas e do papel e aquele inconfundível tic-tac-tic-tac que há séculos dá ritmo e som à palavra.

Depois, animados, eu e a gravura, seguimos em direcção ao Funchal. E novo encontro surpreendente… Agora com a fotografia, elevada justamente à condição de arte. Devidamente enquadrada e exposta na preservada Casa Vicente – um Museu repleto dos extraordinários e históricos objectos que a fizeram evoluir até aos nossos dias, e que merecidamente reabriu para avivar a nossa memória colectiva.

Ali, a gravura ficou especada sem saber o que dizer perante algumas das imagens, sobretudo de João Francisco Camacho, que lhes deram origem, e eu não pude deixar de me emocionar.

Terminado o nosso breve tour, pode dizer-se que existe luz ao fundo dos muitos túneis que Alberto João mandou abrir na Madeira.

1 comentário em “Levar a madeira à Madeira

  1. Muito interessante, esta crónica, através da qual, o autor refere a sua emoção ao “levar a madeira à Madeira”. Tentei eu, sem conseguir, imaginar o “inconfundível tic-tac-tic-tac que há séculos dá ritmo e som à palavra, no âmbito das Artes Gráficas.
    Parabéns!

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