Tunes, 14 de Março
Na intimidade
com o Belo
DEPOIS de mais uma etapa, que na anterior missiva já havia informado o amigo de pretender cumprir, da Tunísia MTG enviava a Columbano uma outra, mas ainda breve, carta, onde explicava que, por razões de saúde, se demorara mais no Norte de África do que tinha previsto.
Museu do Bardo, em Tunes, a partir de postal ilustrado da primeira metade do século XX
Dilação que aproveitava para ver repousadamente e repetidamente monumentos e sítios que, como dizia, visitados de passagem só lhe deixavam na memória impressões confusas, não permitindo a possibilidade de entrar na sua intimidade, de modo a que se fixassem “como perpétuos elementos de beleza e sonho”.
Apesar de tudo, comparada a prisão que tinha constituído a sua passagem pela política, ao serviço do país, os antrazes que o haviam obrigado a permanecer na cidade de Tunes não lhe tinham roubado a possibilidade de viver um período luminoso, de magnífico prestígio estético, que considerava entre os melhores da sua vida. E aproveitava para mencionar o seu périplo pelo espólio do Museu do Bardo, nomeadamente por uma série importante de bronzes e mármores gregos, datados do século I a.C., que em 1910 haviam sido retirados do fundo do mar, mas que ainda não tinha tido ensejo de apreciar, como era o caso dos “anões ou anoas dançarinas” que lhe despertavam a atenção dado o seu extraordinário carácter e originalidade, referindo-se concretamente a um conjunto de três pequenas e grotescas estatuetas – uma espécie de bobo e duas mulheres em poses lascivas, cujo realismo se pode considerar surpreendente, dada a ousadia e o exibicionismo tão pouco vulgares na escultura grega que chegou aos nossos dias.
NOTA: Relativamente ao original, que poderá ser solicitado à Editora Arandis, estes fragmentos, que irei publicar até ao próximo dia 18 de Outubro, data que assinala o falecimento de Manuel Teixeira Gomes, não contêm as notas bibliográficas e explicativas. No final, se os leitores as solicitarem, terei todo o gosto em publicá-las.