O Panorama 1837-1868

2.ª edição desconhecida

Há muito que O Panorama, o denominado «jornal ilustrado e instrutivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis», tem despertado um interesse particular nos meios académicos, sobretudo portugueses e brasileiros. Vários artigos científicos, teses de mestrado e até de doutoramento têm sido feitos – alguns não ultrapassando a acção ruminante muito frequente nas nossas academias, mas outros bem suportados em

trabalho interessante e método de investigação louvável.

Aparentemente, podia pensar-se que já não deveria haver espaço a mais investimento nesta importante publicação do nosso período romântico. Todavia, a matéria que encerra e as várias facetas da sua produção editorial e gráfica desmentem esse pressuposto.

Eu próprio, nos quatro volumes de As Artes Gráficas e a imprensa em Portugal, séculos XV-XIX, já dei inúmeros contributos para o seu estudo, designadamente integrando-o na primeira geração dos jornais ilustrados portugueses. E lembro-me, a propósito da sua publicação ao longo de três décadas, de deixar, numa nota de rodapé, a informação da existência de uma segunda edição da sua primeira série – facto que, pelos vistos, tem escapado aos estudiosos que lhe têm dedicado tempo e curiosidade.

Poder-me-iam perguntar: mas, afinal, é assim tão importante ter havido essa segunda edição?

E a resposta é: sim, bastante importante!

Isto porque uma segunda edição, se não for fac-similada, pode apresentar actualizações que naturalmente acrescentam ou diminuem algo ao original.

No caso concreto do objecto em causa, pode dizer-se que, em termos de tempo, estamos perante uma edição efectuada a uma distância significativa da primeira, e onde são notórias as actualizações da ortografia e de alguns dados, mas sobretudo onde é possível depararmos com a inserção de gravuras que não resultaram da utilização das matrizes originais.

Levantam-se, então, algumas questões:

Porque razão e em que contexto surge a dita segunda edição de O Panorama? Quem foi o responsável por essa mesma edição? Porque não foram as matrizes originais utilizadas? Quem foram os gravadores que decidiram ficar incógnitos? Tratar-se-á de uma edição pirata? Quando percorremos as suas páginas estaremos ou não na mesma condição de quem, ainda que sem saber, visita uma galeria de pinturas falsas?

Como é natural, não será aqui que darei as respostas que se impõem. A matéria exige um espaço que não é compatível com o necessário a um simples artigo não científico. Todavia, antes de o tornar público num futuro fórum de investigação, fica este breve texto como uma chamada de atenção para as pessoas ou entidades que andam a adquirir a obra por valores astronómicos, sem saberem se o que colocam na estante da sua biblioteca se trata do original ou de uma simples cópia.

Para que não restem dúvidas sobre o que ficou dito, deixo duas imagens publicadas num dos números de O Panorama: uma resultante de uma matriz original, assinada, e outra estampada a partir de uma segunda matriz, não assinada.